Para além do Mês da Psicologia, Agosto também é o mês da Visibilidade Lésbica no Brasil. Em alusão às duas importantes datas, o CRP-23 incorporou dentro da programação do Agosto da Psicologia um espaço de diálogo entre a profissão e o Movimento LGBT. A atividade realizada na última quinta-feira (24) foi mediada pela professora, pesquisadora e advogada dos Direitos Humanos, Karol Chaves, pela coordenadora em comissão especial da Atenção Básica, Dhieine Caminsk, e pelo psicólogo presidente do CRP-23, Hudson Eygo.
Políticas públicas com destaque para a saúde da comunidade LGBT, preconceitos e incoerências sociais em relação a diversidade de gênero, sofrimento psíquico e desassistência para a saúde mental no SUS, foram alguns dos temas expostos na atividade que também debateu as contribuições da psicologia e os seus tantos desafios para um atendimento que atenda as demandas reais das comunidades LGBTs.
Dhieine Caminsk, militante e trabalhadora do SUS, conta que pensar a psicologia nos espaços de saúde pública, especialmente quanto o atendimento às pessoas LGBTs, traz desafios cotidianos. “Precisamos ter clareza sobre a necessidade real das pessoas e o que nós estamos construindo enquanto profissão. O psicólogo está inserido em muitos espaços que permitem que ele desenvolva todos esses olhares de ver o ser humano como realmente ele é. O não entendimento sobre a vivência do afeto nas comunidades LGBTs, por parte dos profissionais e da sociedade em geral, leva ao sofrimento psíquico.”.
“O ‘calcanhar de Aquiles’ do movimento LGBT ainda é o acesso à saúde”
A afirmação parte de Caminsk ao abordar também a limitação do atendimento de saúde quanto aos usuários que fogem à heteronormatividade. “As políticas de saúde da mulher não comtemplam as mulheres lésbicas, pois não se fala da mulher que existe, se fala apenas da mulher reprodutora.”, e acrescenta: “Quando se fala em política LGBT acham que o maior direito conquistado é reconhecer o nome social das pessoas transexuais, o que na verdade é um direito básico.”.
Professora, pesquisadora, advogada e militante do Movimento LGBT, Karol Chaves falou de como as questões relacionadas à sexualidade são subalternizadas na saúde, na segurança pública e nos demais setores de assistência social. “Embora tenhamos um Plano Nacional de Políticas Públicas LGBT e um Plano, em elaboração, de Saúde Integral para as Mulheres Lésbicas, no estado e no município ainda não temos políticas públicas que atendam essas populações.”.
Contribuições e Desafios da Psicologia para o Movimento LGBT
Aproximando o debate de maneira especifica ao exercício da Psicologia, o presidente do CRP-23, Hudson Eygo, trouxe para reflexão dois importantes marcos históricos da profissão em relação às populações LGBTs: A resolução 001/99-CFP que reconhece que a homoafetividade não é doença não sendo, desta forma, passível de cura; e o Código de Ética Profissional que deixa claro que o psicólogo em exercício não pode ser conivente com nenhuma prática que corrobore com o preconceito de gênero, o racismo, a vitimização, dentre outras discriminações sociais.
“Qual o tipo de profissional que tem atuado no contexto das populações LGBTs?”, foi a provocação colocada pelo psicólogo Hudson Eygo ao final do debate. Segundo o presidente do CRP-23, “Não podemos construir uma psicologia que carrega a normatividade como objetivo a ser alcançado, visto que as demandas das pessoas homoafetivas fogem do que é pautado pela mídia e pelo ideário social.”.
A roda de diálogo com o Movimento LGBT foi uma das importantes atividades idealizadas para promover o debate entre a categoria e os movimentos sociais no ‘Agosto da Psicologia’. A programação do CRP-23 em comemoração ao Mês do Psicólogo será finalizada nesta segunda-feira (28) com Assembleia Geral.